Setor importante para economia da cidade, shoppings centers fazem acordos com sindicatos dos funcionários e adiam cobrança de aluguéis dos lojistas. Enquanto os trabalhos não voltam à normalidade, redes sociais são aliadas no contato com os clientes

Correio Braziliense

Eles estão sempre cheios, com pessoas subindo, descendo e olhando as vitrines das lojas. Há mais de 20 dias, porém, o cenário nos shoppings tem sido diferente. Em vez de vai e vem de pessoas às compras, portas fechadas e corredores vazios. São 20 grandes empreendimentos do setor no Distrito Federal, segundo a Associação Brasileira de Shoppings Center (Abrasce), responsáveis por mais de 31 mil empregos na capital, que, neste período, tem contato com negociações e acordos trabalhistas para manter as contas em dia.Continua depois da publicidade

A paralisação dos trabalhos foi aos poucos. A primeira ação dos empresários foi diminuir o horário de funcionamento até a publicação do decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB), em 18 de março, paralisando totalmente o setor. O diretor de shopping da empresa Paulo Octávio, Edmar Barros, que responde pelo Taguatinga Shopping, Brasília Shopping, JK Shopping e Terraço Shopping, afirma que, diante da situação atual, o fechamento das portas era algo já esperado. “A gente já vinha negociando com fornecedores e sindicatos para, caso o fechamento acontecesse, tivéssemos a situação sob controle”, diz.


As alternativas adotadas para não precisarem demitir funcionários foram discutidas e definidas por meio de acordos com os sindicatos. “Como não sabemos até quando vamos ficar sem funcionar, fizemos um acordo de suspender os contratos, mas continuamos pagando um percentual do salário, o vale-alimentação e o plano de saúde, com a garantia de não demitir ninguém”, explica Edmar. Diante da redução dos gastos com pessoal e com os contratos dos fornecedores, foi possível diminuir em 50% a taxa de condomínio — pagamento mensal cobrado dos lojistas para manutenção do espaço.


No Pátio Brasil, apenas os serviços essenciais foram mantidos, como segurança e manutenção do espaço. Lá, também foi fechado um acordo coletivo com os sindicatos da categoria. “Os funcionários que estão suspensos recebem o salário parcialmente, e os que estão trabalhando estão em horário reduzido, também recebendo parcialmente”, explica o superintendente da empresa, Renato Horne. Além das medidas para a redução dos impactos da crise, a empresa tem arrecadado alimentos e itens de higiene para doações.


No momento, os empreendimentos trabalham não só para diminuir os impactos no caixa, mas também para facilitar a vida dos lojistas. O Boulevard Shopping, por exemplo, adiou a cobrança dos aluguéis das lojas e do fundo de promoção até a reabertura do comércio, além de diminuir os encargos condominiais de março em 20%. O Conjunto Nacional segue no mesmo caminho: postergou a cobrança de aluguel de março e está adotando medidas que diminuam os custos de condomínio e fundo de promoção. O shopping ainda esclareceu, por meio de nota, que vai oferecer desconto especiais para aqueles que mantiverem as contas pagas. Férias e bancos de hora foram outros instrumentos adotados neste período, assim como a prática do home office.


As medidas seguem a orientação da Abrasce. “Junto ao nosso parceiro lojista, tomamos três atitudes: a primeira é sobre o fundo de promoção, a ideia é de que ele não seja cobrado nesse período; a segunda é sobre o condomínio, reduzi-lo o máximo possível, a média está sendo de 30% a 40% de desconto. Já para o aluguel, o objetivo é não cobrá-lo agora em abril, mas, sim, em outro momento, no futuro”, detalha o presidente da Abrasce, Glauco Humai. As medidas correspondem a um investimento do setor de cerca de R$ 1 bilhão em nível nacional, segundo Glauco. “A gente tem procurado um diálogo com o poder público para solicitar a postergação de impostos, a isenção de alguns tributos e a redução de custo com energia”, completa.

Mobilização nas redes

Enquanto os shoppings não podem abrir as portas, as empresas se mantêm ativas nas redes sociais e por meio campanhas de combate ao coronavírus. A equipe de marketing do Taguatinga Shopping produz conteúdos nas redes sociais para entreter as pessoas e as motivarem a ficar em casa. “A gente precisou se reinventar, principalmente a nossa forma de conteúdo nas redes sociais. Entendemos que o momento é de desacelerar, de olhar mais para a sua casa”, ressalta a gerente de marketing da empresa, Maíra Garcia. A iniciativa também serviu para manter contato com os clientes. “Como o shopping continua fechado, a gente precisa manter a rotina, as nossas conversas. Pretendemos deixar a quarentena leve, proporcionando bons momentos”, acrescenta.


A mesma medida foi adotada por outras empresas, como o Park Shopping, o Brasília Shopping, e o Terraço. Receitas, filmes, exercícios e atividades lúdicas são alguns dos conteúdos que serão disponibilizados na rede. O Conjunto Nacional apostou em uma campanha pedindo para os seguidores postarem fotos de abraços virtuais, mantendo o otimismo em meio à pandemia.

Ação solidária

O shopping Pátio Brasil está arrecadando doações de itens de higiene — luvas, álcool em gel e máscaras — e alimentos. A ação é uma parceria entre a empresa, a Secretária de Saúde, o Serviço Social do Comércio do Distrito Federal (Sesc) e a Federação de Comércio de Bens, Serviço e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio). Os produtos devem ser entregues entre as 12h e as 20h, em uma caixa, identificada e disponível na entrada do shoppings. Os itens serão destinados à Secretaria de Saúde e ao Sesc, que farão a distribuição ao público-alvo.

20shoppings no DF

2.630lojas

31.423empregos

Três perguntas para

Ciro de Almeida, economista e sócio da G2W Investimentos
Qual a importância dos shoppings para a economia da cidade?O shopping tem uma relevância muito grande no comércio e na atividade econômica. As lojas de rua diminuíram com o tempo, e os shoppings vêm concentrando desde atividades mais básicas até lojas sofisticadas e restaurantes. Temos também a capacidade de empregabilidade do setor. Eles concentram uma grande quantidade de empregos, de geração de renda, um fluxo de pessoas muito grande. Além da variedade de produtos oferecidos em um único lugar. Hoje, temos até supermercados dentro dos shoppings.


Como o senhor analisa as medidas adotadas pelo setor?Essas são as medidas principais, mas também é preciso buscar o apoio do governo. É importante manter o diálogo com o governo e com o Banco de Brasília (BRB), que é o nosso banco regional. Ele deve participar desse caminho de reestruturação. É importante facilitar o crédito e fazer com que ele chegue na ponta. Não adianta anunciar e, quando o lojista for atrás, ser barrado na burocracia.


É preciso olhar para frente, para o pós-quarentena? Qual conselho o senhor daria para os empresários?Eles precisam, neste momento, entender todas as possibilidades de oferta de reestruturação do fluxo de caixa, da forma de se relacionar com os empregados, de tentar manter a empregabilidade. Buscar também pautar todas essas medidas que o governo está disponibilizando e ir atrás disso, não deixar tudo para quando acabar a quarentena. Trabalhar a capacidade de adaptar o seu negócio. É preciso trabalhar a proximidade do cliente, ficar atento aos hábitos de consumo. Aproveite a quarentena para fazer um estudo de comportamento dos clientes.