Com recuo em dezembro, indicador do Banco Central que é considerado uma prévia do PIB termina 2019 com alta de 0,89%. Resultado fica abaixo da expectativa do mercado e levanta dúvidas sobre a recuperação da economia neste ano
Correio Braziliense
Considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) indica que a economia brasileira cresceu 0,89% no ano passado. O dado ficou abaixo das expectativas do mercado e também do resultado dos anos anteriores. E confirma que a recuperação da economia brasileira perdeu fôlego ao longo de 2019 e pode demorar mais tempo que o esperado para voltar aos níveis pré-crise. Com isso, os resultados projetados para 2020 também podem ser revistos para baixo
Em dezembro, segundo o BC, o indicador apresentou contração de 0,27% em relação a novembro, que, por sua vez, teve a alta de 0,18% revisao para queda de 0,11%. O resultado decepcionou o mercado financeiro e ajudou a derrubar o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo. Afinal, comprova que a economia brasileira desacelerou e que o PIB de 2019, que será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no início de março, pode até apresentar desempenho mais fraco que o de 2018.
O IBC-Br de 2019 ficou abaixo dos resultados registrados em 2018 e 2017, quando a economia cresceu cerca de 1%. E também se mostrou consideravelmente menor do que as projeções para o PIB de 2019, que giram em torno de 1,1% e 1,2%.
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“Pode ser que o PIB do ano passado fique entre 1% e 0,9%”, calculou Felipe Queiroz, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Caso a perspectiva se confirme, será a primeira vez que o PIB do Brasil apresentará perda de ritmo desde o fim da crise, em 2016. Também pode ser a primeira vez em três anos que o indicador cresça menos que 1%.
Queiroz explicou que o IBC-Br funciona como uma prévia do PIB porque também analisa o desempenho dos setores econômicos — a indústria, que caiu 1,1% em 2019; o setor de serviços, que teve expansão de 1%; e a agropecuária, que ainda não teve o resultado do ano passado divulgado pelo IBGE. No ano passado, o IBC-Br cresceu 1,15% e o PIB, 1,1%. É por isso que o mercado recebeu com tanta cautela o resultado de 0,89%.
“Não é um resultado bom, porque confirma que a economia brasileira vem perdendo dinamismo a partir do fim do ano passado. E comprova que o que se esperava em termos de crescimento não vai acontecer”, afirmou o professor de economia do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, Pedro Raffy Vartanian.
Ele frisa que a desaceleração não é surpresa, tanto que as projeções do PIB já foram revistas de 2% para 1,1% ao longo de 2019. “Houve um otimismo muito grande no início do ano, por conta das mudanças de natureza política e a expectativa em torno das reformas. Mas a reforma da Previdência só foi aprovada no segundo semestre, com uma economia menor que a esperada. A taxa de juros caiu, mas a economia não reagiu, porque muitas famílias ainda estão endividadas, e tanto o desemprego quanto a inadimplência seguem altos. Isso tudo impactou a atividade”, disse Vartanian.
“As medidas econômicas adotadas em 2019 foram de cunho liberalizante e rentista. Não houve uma proposta de desenvolvimento para o setor produtivo, que é quem gera emprego e consumo. Por isso, esse setor acabou muito dependente do cenário externo, que sofreu o baque da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, além da desaceleração da Argentina”, acrescentou Queiroz.
Projeções
O resultado do IBC-Br também levantou interrogações sobre as projeções de crescimento da economia brasileira em 2020. No último Boletim Focus, a aposta do mercado financeiro era de que o PIB crescesse 2,3% neste ano. Mas esse número deve ser revisto para baixo, segundo analistas. Além do desempenho mais fraco do ano passado, que vai influenciar o resultado deste ano, a epidemia de coronavírus continua ameaçando o crescimento global. Dados apresentados nesta sexta-feira (14/2) pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em uma palestra para empresários de São Paulo indicam que o coronavírus pode reduzir de 0,1 a 0,4 pontos percentuais o PIB brasileiro de 2020.
“A partir da próxima semana, as projeções do Boletim Focus devem começar a precificar isso tudo, pois essas estimativas de 2,2%, 2,3% já parecem fora da realidade”, afirmou Queiroz. “Há uma influência, mas é difícil mensurar. Por isso, o mercado espera a continuidade das reformas neste ano”, acrescentou Vartatian.
Ele lembrou, porém, que, as últimas declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, ameaçaram o andamento dessas reformas. “Há quem desconfie da aprovação da reforma administrativa em função desses problemas de comunicação. E isso pode afetar as expectativas dos investidores”, pontuou o professor. Mesmo assim, ele acredita que a economia brasileira deve crescer mais em 2020 do que em 2019.