Brasília, 22 de outubro – Com as eleições municipais na reta final, a partir da próxima semana, as atenções deverão se voltar para a reforma ministerial que tende a ser feita pela presidente Dilma Rousseff. A expectativa é de que o Palácio do Planalto aproveite a dança das cadeiras para dar maior agilidade a projetos de investimentos, de forma a romper a onda de desconfiança que tomou conta do empresariado e está custando caro ao país.
Ainda que a presidente Dilma já tenha demonstrado, reiteradas vezes, o seu apreço pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, começam a surgir, dentro do governo, defensores de uma mudança no comando da chefia da equipe econômica. E o nome mais citado para o cargo é o do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que seria substituído por Luiz Awazu Pereira, hoje diretor de Assuntos Internacionais da instituição.
A justificativa para a troca na Fazenda seria a necessidade de o governo assumir uma postura mais amigável com o capital. Mantega, no entender de alguns colegas, realmente fez um trabalho importantíssimo nos últimos anos. Demonstrou grande competência em momentos críticos para o país, como no fim de 2008, quando houve o estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos e o Brasil mergulhou na recessão. Nos últimos meses, porém, ele passou a ser visto como símbolo do que os empresários classificam de “bravatas do governo”.
Toda a política de enfrentamento aos bancos, às concessionárias de energia, às empresas de telefonia, na avaliação de técnicos do governo, está associada ao ministro da Fazenda, que não se faz de rogado. Ele não só defende publicamente a intervenção do Estado em setores considerados estratégicos para o controle da inflação, como faz ameaças claras, inclusive contra o capital estrangeiro todas as vezes em que o dólar ameaça cair para abaixo de R$ 2.
O que pesa contra Mantega é o baixo crescimento da economia nos dois primeiros anos da administração de Dilma Rousseff, mesmo com todos os estímulos ao consumo anunciados por ele. Uma ala do governo admite, inclusive, que a recuperação da atividade no terceiro trimestre deste ano, quando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve ter sido superior a 1%, foi um voo de galinha. Nos trimestres seguintes, os resultados voltarão a ser decepcionantes, justamente porque o principal ponto para a retomada consistente da produção está emperrado: os investimentos.
Pulso forte
No jogo da confiança, o dado mais evidente de que o governo está perdendo feio a partida é o que se refere à taxa básica de juros (Selic). Desde agosto do ano passado, quando a crise mundial se agravou e ficou claro que a recuperação da economia global levará ao menos cinco anos, o Banco Central já cortou 5,25 pontos percentuais da Selic, de 12,50% para 7,25%, mas nada mudou. O empresariado prefere “queimar” o dinheiro na mão, do que destiná-lo à abertura e à ampliação de fábricas. Teme ser surpreendido mais à frente com uma nova bravata ou medida intervencionista.
Para os donos do capital, ninguém duvida que a presidente Dilma tem pulso forte para conduzir o país. Mas o que se espera dela e de seus auxiliares são sinais claros de manutenção das regras e não de ameaças, de que tudo pode mudar para que os objetivos do governo sejam alcançados. O ideal, no entender dos empresários, é que Dilma os pegue pela mão, os ajude a atravessar a rua e dê a garantia de que, num mundo tão incerto, o Brasil é um país que respeita as regras, que está de portas abertas aos investimentos que vão assegurar a criação de empregos e manter o processo de distribuição de renda.
Terceira onda da crise
Tombini no comando da Fazenda, lembram os auxiliares da presidente que defendem a substituição de Mantega, seria o sinal mais transparente de mudança na relação do governo com o capital privado. Para eles, o Brasil, que ainda está em uma situação confortável quando comparado ao restante do mundo, não pode perder a oportunidade de se afastar da terceira onda da crise que se desenha no horizonte.
A primeira crise, em 2008, envolveu os bancos, que estavam atolados de créditos imobiliários podres. A segunda engolfou os países superendividados ou com as finanças combalidas, a chamada crise soberana. A próxima ameaça vem da área social. Como o mundo não vai crescer, o desemprego, que bate recorde e atinge, sobretudo, os mais jovens, continuará aumentando. A falta de emprego será conjugada com a redução do bem-estar que sempre marcou os países ricos, já que os governos estão reduzindo salários de servidores e de aposentados e pensionistas.
Urnas não perdoam
Com as eleições de 2004 entrando no radar, Dilma aumentará a pressão para que a economia mostre resultados melhores. De nada adiantará os elevados níveis de popularidade de agora se o mercado de trabalho der sinais de fadiga. Não se pode esquecer que, em setembro último, o total de vagas abertas no mercado formal foi o menor para o mês em 11 anos. Portanto, é melhor reagir logo, antes que a fatura se torne um fardo nas urnas.
Correio Braziliense.