Brasília, 05 de setembro – O Brasil está na rota de estrangeiros que tentam a sorte fora do seu país, tanto que o número de autorizações de trabalho para pessoas de fora cresceu 31% no primeiro trimestre de 2012, chegando a 17.081 concessões, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Porém, muitos profissionais optam por empreender em vez de recomeçar a carreira como empregados no novo país. Se os próprios brasileiros enfrentam dificuldades para começar um negócio, com os estrangeiros não é diferente.

Sandra Fiorentini, consultora jurídica do Sebrae-SP, diz que realiza de dois a três atendimentos por semana a estrangeiros, dando orientações de como abrir uma empresa no Brasil. “Muitos não sabem que é necessário ter residência fixa no país, por exemplo, além de um visto permanente ou provisório de dois anos”, declara.

Encontrar um lugar para morar foi uma das dificuldades do sueco Johan Jonsson, que vive no Brasil desde 2005. Porém, ele fez disso sua oportunidade de negócio.

“É difícil ser estrangeiro e não ter referências no país. Eu procurava casas para alugar e não encontrava na internet. Quando achava, não tinha comparações de preços do mercado. Então, resolvi criar o Agente Imóvel”, declara. O Agente Imóvel é um portal de informações sobre o mercado imobiliário e serviço de busca para compra e aluguel de imóveis.

Para Jonsson, a alta carga tributária do país é uma dificuldade para quem quer empreender. “Cobrar impostos do faturamento de uma pequena empresa antes de ela dar lucro é um grande desafio para o empreendedor. Estou acostumado às políticas de incentivo, que cobram zero imposto até que o negócio comece a gerar lucro, e ainda dão descontos pelos impostos salariais. Isso não acontece no Brasil”, afirma.

O presidente do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), João Eloi Olenike, diz que a simplificação tributária é uma reivindicação dos empreendedores, mas que não há perspectivas de melhora a curto prazo devido aos recordes sucessivos de arrecadação e falta de interesse do governo.

“O nosso sistema é perverso e pune quem mais empreende e produz. No Brasil, os tributos, em sua maioria, se concentram no consumo ou faturamento, tributando as empresas antes destas formarem seus ganhos. Já na Europa ou Estados Unidos, a tributação maior incide sobre lucros, rendas e patrimônio”, afirma Olenike.

Svante Westerberg, fundador da MaxiPago!, empresa de processamento de pagamentos on-line, também enumera os impostos como uma dificuldade para os empreendedores. “O sistema poderia ser simplificado. O problema não é pagar imposto, é como você paga e o que recebe em troca. Na Suécia, os cidadãos têm boa infraestrutura e as empresas recebem incentivos”, compara.

O empreendedor sueco mora no Brasil desde 2004, quando se casou com uma brasileira que conheceu nos Estados Unidos, e começou oferecendo consultorias a empresas daqui. Algum tempo depois, foi convidado para ser sócio da Braspag, empresa de processamento de pagamentos, que foi vendida em 2009. Em seguida, fundou a MaxiPago!.

“Em geral, o clima para negócios e para empreender no Brasil melhorou muito nos últimos quatro anos, porém, algumas dificuldades continuam, como a burocracia, que é muito grande. Nos Estados Unidos e na Europa, é possível abrir uma empresa em um dia praticamente. Aqui, se o processo for muito rápido, você consegue em 30 dias”, declara Westerberg.

Há 14 anos no Brasil, desde 2004 o francês Jean Luc Senac possui o próprio negócio. Inicialmente, foi uma empresa na área da saúde e agora ele é sócio-diretor da EvoluCard, empresa de processamento de pagamentos pelo celular. Ele diz que o Brasil oferece muitas oportunidades, mas é difícil para o empreendedor – seja ele estrangeiro ou não – abrir uma empresa sozinho.

“É muita burocracia, é necessário ir a vários órgãos, com vários documentos. Ninguém entende todas as etapas, então tem que pagar um advogado ou um despachante para fazer isso. Demora mais e custa mais”, declara.

A consultora jurídica do Sebrae-SP diz que a demora no processo de abertura de empresa no Brasil se deve a dimensão geográfica do país e a falta de comunicação entre os sistemas da Receita Federal, dos Estados e dos municípios.

“Alguns estados são menos informatizados que outros, os sistemas precisam se unificar. Já existe um movimento neste sentido, há algum tempo. O sistema do Empreendedor Individual (EI), que dá o CNPJ na hora, jáé um teste neste sentido”, afirma Sandra Fiorentini.

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