Brasília, 17 de outubro – Autoridades do Ministério da Fazenda e analistas do mercado financeiro vêem cenários muito distantes para o crescimento do Brasil até o final de 2012. O último Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) e que analisa a opinião dos investidores, aponta queda nas expectativas, embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirme sua convicção de que o Produto Interno Bruto (PIB) do País se recupera desde meados do ano.

As contradições são normais, já que é função do governo melhorar as expectativas em relação a economia do país. “Imagina se o ministro começasse a usar um discurso pessimista? Não ia dar certo, mas a realidade, em minha opinião, é bem diferente”, analisa o economista Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP). Embora “não goste” de concordar com o mercado financeiro, Gala assume que sua posição está mais próxima do pessimismo. “Se a crise continuar lá fora, vai ser muito difícil pro país. Eu acredito em um crescimento bem abaixo das expectativas do governo”, analisa.

As visões quase que opostas em relação aos possíveis cenários para o futuro também se deve a um posicionamento “antigo” do mercado financeiro frente a realidade atual, analisa a economista Simone Silva de Deos, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O mercado ainda segue modelos econômicos antigos, que não podem mais ser aplicados à realidade atual. Eles tentam arrastar o passado para o presente”.

 

 

 

Para ela, o governo está acreditando nas medidas tomadas desde o começo do ano para fomentar o crescimento, como a queda da taxa de juros, as desonerações tributárias e incentivo às indústrias. “O governo está otimista pois acredita na eficácia destas medidas, enquanto que o mercado só analisou a eliminação do IPI, que estimulou as indústrias, mas que os efeitos já passaram”, analisa.

Já o economista Fernando Sarti, diretor do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, está mais alinhado com o otimismo governamental. Para ele, as medidas do governo diminuirão os danos do primeiro semestre e impulsionarão o crescimento para o próximo ano. “Acredito inclusive na recuperação da indústria, que terá retração este ano, mas deve subir em 2013”, pondera.

Dependência dos chineses

Simone também torce por uma recuperação, mas é mais cautelosa. “Eu espero que estas medidas beneficiem a economia, mas não dá para analisar o quanto vão afetar, que números podemos esperar de economia para o ano que vem”. Para Gala, a única coisa que afasta uma situação muito pior é a força, aparentemente inabalável, da China. “Se acontecer algum piripaque por lá, aí sim, nossa situação afunda, pois exportamos muitas commodities para o país, mas isso não parece muito provável para os próximos anos”, acredita.

Todos concordam, no entanto, que a retomada no investimento é fundamental para a recuperação do Brasil. “As medidas não serão suficientes e o país não vai crescer sem a reativação do investimento. As ações do governo, neste sentido, estão certas, analisa Simone. Pode-se criticar a velocidade a intensidade, mas a direção é boa”, conclui.

Economia – terra.com.br