Especial Setembro Amarelo: Como a era do cancelamento impacta no adoecimento mental das pessoas?
O que é o cancelamento?
Nas redes sociais, o termo cancelamento tem sido utilizado para o comportamento de cancelar, eliminar e/ou excluir. No ambiente virtual, o cancelamento acontece quando algo, exposto por um usuário, é considerado inadequado ou em desacordo com o que se tem por certo ou verdadeiro. Através de reações truculentas, algumas pessoas buscam, de fato, excluir o autor da postagem como forma de expressar a reprovação pelo que foi divulgado.
O fato que não foi aceito pode ter ocorrido tanto no ambiente online (vida virtual) quanto no offline (vida real), porém, a partir da publicação, acaba circulando no ambiente virtual.
O cancelamento pode trazer diversas consequências, para o usuário, por algo que postou e foi cancelado. Esse comportamento ganhou força em 2017 quando atrizes de Hollywood começaram a expor, por meio de suas redes sociais, casos de assédio e estupro a fim de denunciar comportamentos inadequados.
Desde então o cancelamento vem ganhando força com outras temáticas como: machismo, violência e racismo, por exemplo.
A internet e as redes sociais proporcionam uma conexão instantânea, de forma que vítimas passam a ter voz, respaldo de mais pessoas e até mesmo, maior facilidade para chegar até órgãos competentes.
Consequências do cancelamento
Da mesma forma que o cancelamento pode proporcionar importantes discussões sobre temas relevantes na sociedade, ele também pode vir acompanhado do discurso de ódio, exaltação da raiva, intolerância mediante erros e comportamentos de perseguição podendo ser associado ao cyberbullying (bullying no ambiente virtual com a presença de xingamentos, ameaças e exclusão social).
Devido ao anonimato e distanciamento que a internet permite, as pessoas passam a se colocar na posição de juízes sobre os demais, a apontar o dedo e gerar a exclusão com “deslikes” (deixar de curtir), diminuição de seguidores, de forma a dizer que aquela pessoa não é mais aceita socialmente. Além disso, a pessoa que sofre o cancelamento pode vir a sofrer consequências no trabalho, nos demais relacionamentos e na autoestima.
Um exemplo mais recente é o caso de uma artista que foi cancelada após a participação em um reality show. Devido aos comportamentos considerados inadequados, ela e os familiares sofreram ameaças, ela perdeu diversos contratos de trabalho, patrocínio e teve dificuldade para voltar a vida “normal”.
O ponto de destaque é: o quanto o erro do outro é intolerável de forma a não ser perdoado? Nos colocamos em uma postura de julgar o outro como se jamais fôssemos errar também.
Essa postura denuncia uma falta de empatia e intolerância mediante aos erros, o que gera graves consequências para os relacionamentos sociais, dentro e fora das redes sociais.
Na visão do desenvolvimento humano, quando uma criança erra, o mais adequado é que possamos explicar o que ela fez ou falou foi inadequado e que possamos ajudá-la a aprender para que o mesmo erro não se repita.
Essa correção não precisa, necessariamente, ocorrer por meio de punições ou exclusões. O esperado é que ela entenda o que e porquê não deve fazer e como deve se portar de forma mais adequada na próxima vez.
É importante destacar que existem diferentes tipos de erros e alguns que preveem rígida punição, principalmente, se envolver risco a integridade ou a vida de pessoas envolvidas. Mas, se tratando de erros que não envolvam esses riscos, adultos e adolescentes também podem estar no lugar de constante aprendizagem, mesmo que já tenham passado por outras experiências e tenham mais tempo de vida. Afinal de contas, não somos todos seres humanos suscetíveis a erros e acertos?
O cancelamento denuncia algo que falta na nossa sociedade:
acolhimento, compreensão e empatia, habilidades necessárias para todos os relacionamentos saudáveis.
O que é o adoecimento mental?
O primeiro ponto a ser destacado quando falamos de adoecimento mental, é considerar que essa condição não é algo que acontece de um dia para o outro. O adoecer leva tempo, apresenta sinais, e não significa que uma vez doente sempre doente. Da mesma forma que adoecer leva tempo, tornar-se mais saudável também.
Adoecer mentalmente significa que a forma como pensamos, nos vemos, encaramos a vida e as adversidades pode estar com alguma distorção.
Esses desvios assim podem provocar oscilação de humor, irritabilidade, estresse, cansaço recorrente, dificuldade de atenção e concentração, para fazer as atividades diárias, entre outros problemas.
Em casos mais graves, projetos ou tentativas suicidas também são fortes indícios de adoecimento
mental.
O que pode ser observado é que, após o adoecimento mental, a pessoa não pensa e nem se comporta mais como antes e essas mudanças podem provocar algum tipo de prejuízo.
No caso do cancelamento, se sentir sempre culpado, errado ou, inadequado são pensamentos que podem interferir diretamente na autoestima e no autoconceito (incluindo questionamentos sobre “quem eu sou” ou e sobre as coisas que valorizo ou não) de forma a prejudicar a atenção, concentração, regulação do sono, aumento da preocupação, medo e ansiedade a fim de gerar diferentes tipos de doenças mentais.
Para mudar essa realidade é necessário buscar um processo mais saudável, com acompanhamento psicológico, e a depender de cada caso, o psiquiátrico também.
É fundamental ajudar a pessoa a se reconectar com ela mesma e a lidar com as distorções de pensamento e comportamentais provocadas pelo adoecimento.
A AAFIT tem parcerias com psicólogos que oferecem condições de pagamentos especiais para associados. Então, se você ou algum amigo está passando por alguma dificuldade, procure um psicólogo que possa te ajudar! Você não está sozinho.
Setembro Amarelo: campanha de prevenção ao suicídio
Autora: Luiza Monteiro, psicóloga com foco em ansiedade e
relacionamentos – CRP 01/19481 (61)98118-4885 | @psi.luizamonteiro |
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