Brasília, 01 de abril – Ninguém segura este país, pelo menos quando o assunto é alta de preços. O Banco Central (BC) apresentou ontem o Relatório de Inflação, com projeções mais elevadas do que na versão do trimestre anterior, divulgada em dezembro. E botou a culpa na deterioração das contas públicas. A expectativa predominante do BC é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atinja 6,6% neste ano, ultrapassando, pelo segundo ano consecutivo, o teto, de 6,5%. Antes, a previsão era de 6,2%. Para o Produto Interno Bruto (PIB), a queda esperada é agora de 3,5% — em dezembro, era de 1,9%.
“Tínhamos um cálculo de resultado fiscal em dezembro que apontava para a neutralidade. Quando recalculamos agora, caímos na faixa expansionista”, disse o diretor de Política Econômica do BC, Altamir Lopes, para explicar a mudança de expectativa do custo de vida. A esperança de superavit de 0,5% nas contas do governo, em dezembro, deu lugar à projeção de deficit de 1,6%, mas os números não constam do relatório.
As explicações não foram suficientes para convencer o mercado de que a autoridade monetária está fazendo o que lhe cabe para manter o poder de compra da moeda. “A culpa é sempre dos outros, nunca do BC. É como um time de futebol dizer que não consegue ganhar o jogo porque choveu muito e a bola está pesada”, atacou o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor da instituição.
Pressões
O BC também procurou reforçar a ideia de que não vai baixar os juros se não houver condições para isso. No cenário de referência apesentado ontem, a Selic, a taxa básica estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), continuará nos atuais 14,25% até o fim do ano. O documento menciona várias pressões de alta da carestia, além dos gastos públicos. “O Comitê reitera que essas condições não permitem trabalhar com a hipótese de flexibilização monetária.”, diz o relatório.