#Hélio Doyle pede demissão da Casa Civil do DFBrasília, 11 de junho – Após 161 dias à frente do Governo do Distrito Federal (GDF), Rodrigo Rollemberg (PSB) vai usar o pedido de demissão de Hélio Doyle do comando da Casa Civil para tentar acalmar os ânimos com partidos aliados e sair da crise política. O plano do socialista é que a saída de Doyle represente uma volta à estaca zero, e os desgastes na relação com sindicatos, Câmara Legislativa e correligionários sejam esquecidos, dando tranquilidade para o andamento da gestão. Principal alvo das críticas de servidores públicos, entidades de classes e parlamentares nos primeiros cinco meses de governo, Doyle era o homem forte de Rollemberg e participava das principais decisões do governo. Ontem, ao anunciar o desligamento do cargo, ele creditou sua saída a articulações políticas, que trabalharam para tirá-lo do Buriti. “Sou um empecilho para as boas relações do governador Rollemberg com o meio político”, resumiu. O diretor-geral da Câmara dos Deputados, Sérgio Sampaio, será o substituto.

Ontem, ele aproveitou o discurso de despedida para defender a atual gestão e criticar vários políticos ligados ao governo. O senador Cristovam Buarque, ele classificou como imaturo. Sobre os deputados, afirmou que não se pode generalizar, mas ressaltou que “alguns parlamentares” pensam apenas no próprio interesse e não nas necessidades da população. Motivo alegado por Celina para deixar a base do governo, Doyle explicou a presença de petistas na Casa Civil. “São servidores de carreira, competentes e sempre cumpriram as metas estabelecidas. Não os demitiria para nomear indicados de deputados, que, muitas vezes, sequer aparecem para trabalhar.”

Perguntado se Celina teria exigido sua demissão, ele falou que isso não ocorreu de forma explícita. “Como falei, todos aqui são inteligentes e viram que o pedido foi feito de outra maneira.” Ainda sobre os distritais, afirmou que muitos vão ao Buriti apenas para fazer lobby em favor de empresas, e que parlamentares não ajudam Brasília a sair da crise. “Enquanto estamos atolados em dívidas, eles gastam milhões com carros oficiais luxosos, com gasolina e vários assessores.”

Análise da notícia
A história se repete

» Ana Maria Campos

Parecia um remake. O homem mais forte do governo convocava uma coletiva para espalhar petardos e anunciar que estava deixando o cargo no Palácio do Buriti. O personagem era o mesmo: o jornalista Hélio Doyle, 19 anos mais velho, porém numa situação bem parecida. Em fevereiro de 1996, na condição de secretário de Governo, ele esteve, como ontem, no mesmo salão nobre para criticar os adversários que provocavam a sua queda. A administração era de Cristovam Buarque, um dos algozes que levaram à demissão comunicada ontem.

Hélio Doyle foi considerado o coordenador responsável pela vitória de Cristovam em 1994, da mesma forma como ocorreu com Rodrigo Rollemberg 20 anos depois, em 2014. Passada a eleição, nos dois governos, assumiu o cargo mais importante, com poder na gestão administrativa, na política e na comunicação. Foi também quase tão mais forte quanto o próprio chefe do Executivo. A projeção incomodou Cristovam há 20 anos. Também deu desconforto a Rollemberg. Houve intrigas, agora e no passado.

Há 19 anos, Doyle foi surpreendido, quando voltava de uma viagem familiar aos Estados Unidos, com uma situação de desgaste irreversível. Integrantes do gabinete de Cristovam plantavam notas sobre a iminente demissão do secretário de Governo. Na chegada ao Brasil, o jornalista não teve como permanecer no cargo. O mesmo ocorre agora. Aliados de Rollemberg fazem críticas públicas ao chefe da Casa Civil, que o deixaram sem condições de continuar.

Os mesmos erros foram cometidos? Doyle não tem papas na língua. Não adota eufemismos para revelar a realidade. Nunca bajula deputados ou senadores. Gosta de comprar brigas. Muitas vezes, é visto como arrogante. Na defesa do governo, chamou políticos e sindicatos para uma queda de braço. Criou inimigos. Cavou, assim, a própria cova na Casa Civil. Ontem, Doyle se sentia como num filme antigo. Mas garantia que havia uma diferença. “Não vou criticar Rollemberg. Saio de bem com o governador.”