Brasília, 08 de dezembro – A equipe econômica de Dilma Rousseff só coleciona fracassos. Desde que foi anunciada a formação do grupo integrado por Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (mantido no comando do Banco Central), no fim de dezembro de 2014, nada do que eles prometeram ou previam aconteceu. A economia não para de piorar e as contas públicas estão mais desequilibradas do que nunca. As perspectivas de melhora para o fim deste ano, apontadas pelos ministros, estão sendo transferidas para 2017 ou, pior, só para 2018.
As notícias não são boas. A inflação, na casa de dois dígitos, está corroendo a renda dos brasileiros, que frearam o consumo, principal motor da economia nos últimos anos. Os investimentos, outro fator importante para a retomada da atividade, desabaram, inclusive os do governo, no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que sofreram tesourada acima de 40%. Não à toa, pelas estimativas de especialistas, o Produto Interno Bruto (PIB) encolherá perto de 4%, neste ano, e até 3% no ano que vem. Queda como essa, em dois anos seguidos, não se via desde 1930 e 1931, indicando que o país está mergulhando em uma depressão.
Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, 2016 já está perdido, como ocorreu com 2015, principalmente, diante da abertura do processo de impeachment da presidente, na semana passada. “Com ou sem Dilma, o próximo ano continuará sendo de ajuste, e a recessão permanecerá”, alertou. Para o economista-chefe do Haitong Banco de Investimento do Brasil, Jankiel Santos, a retomada do crescimento em 2017 ainda é uma incógnita. “As pessoas esperam algum tipo de retomada até lá, porque a queda neste ano e no próximo será grande. Mas há economistas que, mesmo com a base de 2016 deteriorada, estão prevendo queda no ano seguinte”, disse ele.
Responsabilidade
Especialistas são unânimes em prever piora na economia com a abertura do processo de impeachment contra Dilma. “Se o Congresso entrar em recesso antes de definir o caso, a paralisia econômica vai se estender pelo primeiro semestre de 2016, que é importante para a atividade. Não haverá crescimento porque tudo ficará parado e o governo não conseguirá aprovar medidas de ajuste fiscal”, disse Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington.
Os analistas também evitam jogar nas costas de Levy a responsabilidade por todos os fracassos. “Qualquer que fosse o ministro da Fazenda, a receita não seria diferente do ajuste fiscal que Levy apresentou. É injusto, agora, dizer que a culpa é dele. Seu papel era apresentar o plano, e foi o que ele fez. Quem tinha que fazer as medidas andarem no Congresso eram a Casa Civil e a Presidência”, destacou Jankiel Santos.
Vale, da MB, criticou a falta de sincronia na equipe econômica. “Isso fez toda a diferença para não dar certo. Vimos, ao longo do ano inteiro, os entraves entre Planejamento e Fazenda, e o BC sem conseguir sinalizar inflação na meta para os próximos anos”, afirmou. Jankiel Santos acredita que o ajuste fiscal ficou em segundo plano desde a prisão do líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), há duas semanas. “O foco, agora, é a preservação do mandato de Dilma. Não existem mais condições para a aprovação de medidas de ajuste, e isso se reflete na reversão das expectativas, que estão piorando”, disse.
Rombo
Nada do que os ministros prometeram no início do ano foi cumprido. A arrecadação desabou e o desequilíbrio fiscal cresceu. E o anunciado superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) de R$ 66,3 bilhões para todo o setor público não se materializou. Pior. Na semana passada, o Executivo conseguiu aval do Congresso para poder terminar o ano com um rombo fiscal de até R$ 119,9 bilhões. Com isso, pelo segundo ano seguido, o governo encerrará as contas no vermelho. Em 2014, o deficit foi de R$ 32,5 bilhões.
“No início do ano, achávamos que, com a indicação de Levy, que prometia um ajuste fiscal rápido, havia uma esperança de melhora na economia ainda em 2016. Mas o problema é que a política fiscal não funciona se não tiver a ajuda de um sistema político engrenado”, disse Monica de Bolle. Para ela, Dilma deu sinais confusos ao longo do ano, primeiro dizendo que o ajuste era importante, depois apresentando um orçamento deficitário. “Nenhum ministro da Fazenda, por melhor que fosse, conseguiria operar nessas condições. Não deixaram Levy trabalhar”, criticou a economista, lembrando que, apesar da retórica de corte de gastos, o consumo do governo aumentou.
Não foi surpresa, desse modo, que, em setembro, o Brasil tenha perdido o grau de investimento da Standard & Poor’s. Nas outras duas agências de classificação de risco, Fitch Ratings e Moody’s, o país está a apenas um degrau de perder o selo de bom pagador. No entender do economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, a equipe econômica comentou dois erros básicos. O primeiro foi fazer promessas sem ter ideia do tamanho do buraco em que o país havia se metido. “Naquele momento, boa parte dos economistas não acreditava nas projeções de que o superavit primário seria de 1,2% do PIB em 2015. Além disso, todos achavam que levar a inflação para o centro de meta em 2016 era impossível”, destacou.